segunda-feira, 9 de março de 2009

ain't got no, i've got life.

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


poema de natal, vininha, 1960.

terça-feira, 3 de março de 2009

simples e complexo.


‘A bossa nova foi o resultado de uma série de tentativas de compositores, desde a década de 30, no sentido de acrescentar à música popular um tipo de sofisticação musica que só era conhecia no choro. Não se pretendia, é verdade, colocar no samba as modulações de choro, mas outras características que tirassem o samba da condição de música fácil. Isso, sem dúvida, foi conseguido pela bossa nova. O samba ficou mais rico em harmonia e teve uma mudança nas letras e na melodia. No ritmo, porém, o processo foi inverso. A bossa nova simplificou de tal maneira o ritmo do samba que um velho problema – a incapacidade dos bateristas estrangeiros de executarem o gênero foi resolvido [...] O esforço para sofisticar o samba partia de compositores que tentavam usar recursos obtidos tanto na música erudita quanto no jazz norte-americano’”. (TÁVOLA. Artur da. Pág. 45)

o beijo, klimt, 1907. a simplicidade não exclui a complexidade ;~.